As Organizações Globo,
proprietárias de um grupo de emissoras de rádio, canais de TV, jornais e
revistas, em todo o país, pressionavam as autoridades com uma exposição massiva
e diária do caso
Por Redação – de Guarulhos (SP),
Santos (SP) e São Paulo
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava
reunido com a direção nacional da Centra Única dos Trabalhadores (CUT), na
noite desta quinta-feira, com dirigentes sindicais de todo o país, quando soube
que a Polícia Federal (PF), em relatório final sobre as investigações sobre um
apartamento triplex, no Guarujá, cuja propriedade fora atribuída ao líder
petista. Uma decisão do juiz Sergio Moro, titular da Vara Federal do
Paraná, chegou quase a determinar o sequestro de Lula, impedido por ordem do
Comando da Aeronáutica de ser levado em um avião da PF para Curitiba, no início
deste ano.
As Organizações Globo, proprietária de um grupo de
emissoras de rádio, canais de TV, jornais e revistas, em todo o país,
pressionavam as autoridades com uma exposição massiva e diária do caso. A
notícia de que Lula não tem qualquer ligação com o imóvel investigado, no
entanto, foi levada ao rodapé das publicações e nenhuma nota nos noticiários
televisivos. O apartamento, na realidade, pertence à publicitária Nelci Warken.
Warken foi indiciada após admitir ser dona do
triplex, alvo de investigação da fase Triplo X, da Operação Lava Jato. O
relatório concluído foi entregue pela PF à Justiça na última sexta-feira, mas
divulgado pelo juiz Moro somente na noite desta quinta-feira. Além de Warken,
foram indiciados cinco funcionários da empresa Mossack Fonseca no Brasil: Maria
Mercedes Riaño, Luis Fernando hernandez, Rodrigo Andrés Cuesta Hernandez,
Ricardo Honório neto e Renata Pereira Britto, além do empresário Ademir Auada,
intermediário de negócios para a empresa. Lula e seus parentes também não
receberam, até agora, um pedido de desculpas, formal, por parte da Justiça e
das Organizações Globo.
Mansão da Globo
No relatório de cinco páginas, a PF descreve a
Mossack Fonseca como uma “organização criminosa de caráter transnacional,
estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, voltada para
a prática do crime de lavagem de dinheiro”. A Mossack Fonseca tornou-se
conhecida no Brasil após a divulgação da série jornalística Panama Papers, em
abril deste ano, por um grupo de jornalistas independentes. A série baseou-se
em um acervo de 11,5 milhões de documentos internos da Mossack, obtido pelo
jornal alemão “Süddeutsche Zeitung” e compartilhado com o Consórcio
Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ).
Mansão em
Paraty, foi construída em terreno público federal, segundo laudo da Marinha
“As diligências efetuadas revelaram que a atividade
principal da Mossack guardava relação com a abertura de empresas offshore, de
forma a ocultar seus verdadeiros sócios e responsáveis. Nesse sentido, todos os
que trabalhavam na empresa tinham plena ciência de que atuavam em um mercado
voltado à demanda do trânsito de valores e bens de origem suspeita e duvidosa.
Por tal motivo, foram indiciados como incursos no art. 1, par. 2º, inciso II da
Lei 9.613/98”, diz outro trecho do relatório. A lei mencionada é a que trata de
lavagem de dinheiro.
A investigação jornalística dos Panama Papers é
citada em vários momentos nos relatórios produzidos pela Polícia Federal. Em
alguns trechos, os peritos da Polícia utilizaram-se de reportagens para
analisar documentos apreendidos na sede da Mossack Fonseca e na casa das
pessoas que foram alvo da fase Triplo X. Entre os citados estão jogadores de
futebol e políticos de vários países como Maurício Macri, da Argentina, e
Michel Platini, o francês que pretendeu ser presidente da Fifa.
Um dos negócios da Mossack Fonseca, no Brasil, é
uma propriedade de alto luxo em Parati, no Sul do Estado do Rio de Janeiro. A
mansão, construída ilegalmente em área de preservação ambiental, naquele
município, foi noticiada no canal de TV norte-americano Bloomberg, em
2012, como sendo da família Marinho, dona das Organizações Globo. Os filhos do
fundador do conglomerado empresarial, Roberto Marinho, já falecido, negam a
propriedade do imóvel, mas a PF ainda investiga o caso.
Lula e Dilma fora
da Operação Lava Jato
da Operação Lava Jato
Ainda no ano passado, o procurador-chefe da
Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol, afirmou que não havia qualquer evidências
de envolvimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente
Dilma Rousseff no esquema de corrupção na Petrobras.
— Nós não investigamos pessoas, nós investigamos
fatos. Quando existe uma evidência de que uma pessoa esteja vinculada à um fato
criminoso, essa pessoa passa a ser investigada. O ex-presidente Lula não é
nosso investigado — disse o procurador, em uma entrevista à Rede TV!.
Segundo Dallagnol, a presidenta Dilma dirigiu do
Conselho de Administração da Petrobras durante sete anos, de 2003 a 2010, mas
não tem qualquer participação nos ilícitos ocorridos na companhia, segundo o
procurador.
— Nós do Ministério Público Federal atuamos,
especificamente, na investigação de atos de improbidade administrativa e atos
criminais. Para imputarmos esses tipos de atos, teríamos que provar que essa
pessoa atuou com um mínimo de consciência para que esses atos fossem
praticados. Em relação à ela, nós não temos nenhuma evidência — concluiu.
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