Em tom
rígido, a presidente Dilma Rousseff levou nesta terça-feira à 68ª Assembleia
Geral da ONU, em Nova York, as críticas do país ao governo americano, acusado
de espionar inclusive as comunicações pessoais da presidente brasileira.
Na
plenária, Dilma qualificou o programa de inteligência dos EUA de "uma
grave violação dos direitos humanos e das liberdades civis; de invasão e
captura de informações sigilosas relativas a atividades empresariais e,
sobretudo, de desrespeito à soberania nacional".
Dilma
afirmou que as denúncias causaram "indignação e repúdio" e que foram
"ainda mais graves" no Brasil, "pois aparecemos como alvo dessa
intrusão". Disse ainda que "governos e sociedades amigos, que buscam
consolidar uma parceria efetivamente estratégica, como é o nosso caso, não
podem permitir que ações ilegais, recorrentes, tenham curso como se fossem
normais".
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Timothy
Clary/AFP
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Em
discurso na Assembleia-Geral da ONU, Dilma Rousseff defende criação de marco
de internet para evitar intrusão
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"Elas
são inadmissíveis", completou.
Conforme
a brasileira, o Brasil "fez saber ao governo norte-americano nosso
protesto, exigindo explicações, desculpas e garantias de que tais procedimentos
não se repetirão".
Há uma
semana, a presidente cancelou a visita de Estado que faria ao colega Barack
Obama em outubro que vem, em Washington, por "falta de apuração"
sobre as denúncias de que a inteligência americana espionou as comunicações
pessoais da brasileira, além da Petrobras.
Para ela,
"imiscuir-se dessa forma na vida de outros países fere o direito
internacional e afronta os princípios que devem reger as relações entre elas,
sobretudo, entre nações amigas".
Dilma
também foi extraordinariamente dura ao rebater frontalmente o argumento
americano de que a espionagem visa combater o terrorismo e, portanto, proteger
cidadãos não só dos EUA como de todo o mundo.
Para
Dilma, o argumento "não se sustenta". "Jamais pode uma soberania
firmar-se em detrimento de outra. Jamais pode o direito à segurança dos
cidadãos de um país ser garantido mediante a violação de direitos humanos
fundamentais dos cidadãos de outro país."
"O
Brasil, senhor presidente [da Assembleia Geral], sabe proteger-se. Repudia,
combate e não dá abrigo a grupos terroristas", disse.
O Brasil
faz o discurso de abertura da reunião anual desde que o embaixador Oswaldo
Aranha iniciou a tradição, em 1947.
SÍRIA
Em
relação ao confronto na Síria, Dilma mencionou que o Brasil possui "na
ascendência síria um componente importante de nossa nacionalidade" e
voltou a se posicionar contra uma eventual intervenção militar.
Ela
também criticou a disposição dos EUA e de seus aliados de agir sem apoio do
Conselho de Segurança da ONU. "O abandono do multilateralismo é o
prenúncio de guerras", disse.
Dilma
conectou o assunto à reforma do conselho, uma das mais antigas reivindicações
da diplomacia brasileira.
Ela
afirmou que a "polarização" entre os membros permanentes --ou seja,
com direito a veto-- do conselho provocam um "imobilismo perigoso".
Ela defendeu que sejam somadas ao órgão "vozes independentes e
construtivas".
"Só
a ampliação do número de membros permanentes e não permanentes permitirá sanar
o atual déficit de representatividade e legitimidade do conselho", disse.
PROTESTOS
No seu
discurso, a presidente brasileira também mencionou a onda de protestos ocorrida
em junho passado. Disse que seu governo "não as reprimiu" porque
também "veio das ruas". "Para nós, todos os avanços são sempre
só um começo. Nossa estratégia de desenvolvimento exige mais, tal como querem
todos os brasileiros e as brasileiras."
Em
relação à economia, ela afirmou que o país "está retomando o
crescimento" graças a "políticas macroeconômicas" e que seu governo
possui "compromisso com a estabilidade, com o controle da inflação, com a
melhoria da qualidade do gasto público".